quarta-feira, 7 de abril de 2010

APARELHO NACIONAL CONVERTE ENERGIA SOLAR EM ELETRICIDADE



Em tempos de busca por alternativas energéticas renováveis e limpas, a luz do sol pode ser considerada uma das melhores opções, por ser gratuita e inesgotável. No Brasil, porém, o aproveitamento desse recurso ainda é pequeno e caro. Pensando em uma forma de ampliar a utilização da energia solar no país, cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) construíram o primeiro conversor eletrônico nacional, equipamento necessário para transformar a energia produzida por painéis solares e distribuí-la na rede elétrica.



A pesquisa começou quando a Unicamp construiu uma usina de geração solar para fazer experiências com essa tecnologia. “Fiquei me perguntando por que precisávamos comprar os conversores de outros países se nós tínhamos competência para fazê-los aqui?”, conta Marcelo Villalva, engenheiro eletrônico e autor do estudo que resultou no aparelho. A partir daí, o engenheiro trabalhou durante quatro anos até construir um protótipo de laboratório.

O conversor eletrônico de potência trifásico tem um grau de eficiência de 85%. Os primeiros testes, realizados entre dezembro e janeiro passados, tiveram êxito numa instalação de painéis solares com capacidade de 7,5kW. “Esse conversor substituiu plenamente, durante o período de testes, os três conversores eletrônicos monofásicos que, atualmente, estão ligados aos painéis solares”, atesta Ernesto Ruppert Filho, professor de engenharia elétrica da Unicamp que supervisionou o estudo.

Villalva explica que os painéis solares fotovoltaicos geram energia elétrica na forma de corrente contínua, diferente da utilizada na rede elétrica que abastece as cidades, que é de corrente alternada. Por isso, a energia elétrica gerada por esses painéis não pode ser imediatamente aproveitada para o uso convencional, sendo necessária a utilização do conversor.

De acordo com o engenheiro, o efeito fotovoltaico é a geração de corrente elétrica em materiais semicondutores expostos à luz. “Os fótons luminosos incidem nos átomos do material semicondutor e arrancam elétrons das camadas externas, originando um fluxo de elétrons”, explica. Porém, as células fotovoltaicas produzem pouca energia. Cada painel, portanto, é composto por várias delas. “Normalmente, esses painéis possuem potências entre 100w e 200w. Mas eles também podem ser associados, dando origem a usinas de geração solar fotovoltaica de várias dezenas de megawatts”, esclarece o cientista.

Uso doméstico
Enquanto, no Brasil, a tecnologia de conversores de energia elétrica solar, conectados à rede elétrica ainda está sendo desenvolvida, na Europa, nos Estados Unidos, na Austrália e no Japão é comum as residências e prédios comerciais possuírem painéis solares ligados à rede elétrica. “Isso evidencia uma enorme defasagem tecnológica”, afirma Villalva. Segundo o pesquisador, nesses países, qualquer pessoa pode ter em casa um sistema de geração solar conectado à rede elétrica, prática incentivada pelos governos por meio de subsídios, em alguns casos.

Ruppert Filho acrescenta que as vantagens da produção de conversores nacionais são as mesmas do domínio de qualquer tecnologia: não pagar royalties, diminuir a necessidade de importação, facilidade e rapidez de manutenção. Além disso, no caso específico do conversor, o domínio da tecnologia traz a possibilidade de troca de informação entre as concessionárias de energia elétrica, os produtores de energia e os fabricantes dos conversores. “Tudo isso pode resultar em queda do preço de cada quilowatt produzido e, portanto, numa conta menor para o consumidor, quando uma quantidade razoável de geração fotovoltaica existir no país”, aponta.

Tanto Villalva quanto Ruppert Filho vislumbram um futuro próximo no qual qualquer consumidor de energia elétrica — domiciliar, comercial ou industrial — poderá ter painéis fotovoltaicos em sua instalação, produzindo energia elétrica para o seu gasto e vendendo a sobra para a concessionária de energia elétrica. “Para isso, deverá haver uma regulamentação e alterações nos padrões de medição dos consumidores no sentido de que seja possível medir não só a energia consumida da rede elétrica, mas também a energia fornecida à rede elétrica”, diz o engenheiro.

Em nível mundial, a líder em tecnologia na área de energia solar é a Alemanha, onde são instalados 6,5 mil MW (megawatts) de geração fotovoltaica, o que significa metade da energia produzida pela hidrelétrica de Itaipu. Com nível de irradiação solar superior ao da Alemanha, o Brasil poderia se tornar uma potência na geração de energia solar. “O Brasil, um país onde o sol brilha quase o ano inteiro, ainda não aprendeu a usar essa fonte de energia”, lamenta Villalva.

FONTE: - Correio Braziliense, Silvia Pacheco 07/04/2010

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